Caminho Atrás da Barreira


As nuvens não são barreiras

São vapores, fumaça, negras, brancas.

Elas são esnobes, pairam sobre as nossas cabeças

Pálidas, negras

Resmungam quando não há vento e invejam-nos, por andarmos sem ele.

E nós a invejamos por voarem.

Passamos dentro delas e elas apenas por cima de nossas cabeças

Pálidas, negras

Só combinam com o azul. Contrastam e destacam-se.

Despercebidas no frio, choram a chuva.

Estão à mercê do vento. E nós a mercê de nós mesmos.

E elas invejam-nos.

São temas de músicas

Mas não sabem assobiar.

Pálidas, negras.

Temos a certeza que atrás daquela, bem espessa de tanta inveja

Há o mesmo céu azul.

Atrás das barreiras ainda há o caminho.

Elas me bloqueiam o sol

Tamanha raiva

Raiva sentimos porque elas voam

Pálidas, negras

Talvez quisesse ser nuvem. Voar sem rumo.

Evaporar, fundir no azul

Mas ainda precisaria do vento pra andar

E não passaria por dentro de ninguém

Apenas o avião me cortaria

Pessoas me cortam hoje também

E eu não vôo.

Não queria evaporar, queria somente ser nuvem.

Pálida, negra...

Imagine




De quase tudo que vejo
Em quase nada me sinto
No escuro só enxergo o silêncio
Esquivo
Pulo
Agarro
e torço
Espremo bem, pra tirar qualquer impureza
Agora pego no colo e cuido
Porcelana chinesa
Raridade imensurável
Desvalorizada
Essencial
Paz.
Louva a tu
Louva a mim
Louva a tudo que seja
Louvável.
De proeza em proeza
Louvado seja
Lavado esteja
Vosso espírito
E que de belo tenha
Que ser louvado
Por quem quer que seja

Louvemos àquilo que não
Vemos
Sentimentos sublimes
Que esquecemos
Oremos

Louva-a-Deus

.

Mudanças do Vento que Passa

Pequeno texto que fala das mudanças que somos obrigados a fazer para alcançar nossos objetivos. E nos manter retos é sempre tão difícil.
É melhor o vento quebrar nosso galho podre, do que este contaminar o restante da árvore.
"Se os seus sonhos estiverem nas nuvens,
não se preocupe, pois eles estão no
lugar certo. Agora, construa os alicerces."
(Shakespeare)




O vento que está certo
Sempre seguindo no mesmo sentido
Vez ou outra muda o rumo do barco
Quem é você?
O barco ou o vento?

O vento que está certo
Segue reto
Encontra o concreto maciço do prédio
E morre
Mas não muda a direção!

O vento que está certo
Porque o obstáculo à frente
Não lhe impede de soprar
Ao oposto
Vira vendaval
A fim de removê-lo

Ele procura espaço
Para ventar seu assobio
Assobiar sua melodia
Ventar sua ventania

Deixe a vida seguir
Permita ao vento chegar
E veja o que ele faz

Queria ser como o vento
Se não houver espaço
Removo tudo ventando
E assobio.

Tempo x Movimento

Passei por quase duas semanas conturbadas no trabalho. Problemas grandes com clientes importantes. Mudanças na empresa, reunião. Mas pelo menos houve melhoria em algum aspecto.
Fora isso, semana de provas na faculdade. Sem o tempo que gostaria pra estudar. E por essas e outras demorei a postar, mas pensei muito nisso: O tempo.

Uma coisa que meu chefe não sabe é que eu queria um aumento... De tempo. Queria MAIS TEMPO pra mim, MAIS TEMPO pra fotografar, MAIS TEMPO pra estudar, MAIS TEMPO pra ficar perto de quem eu amo. MAIS TEMPO pra ajudar alguém. MAIS TEMPO pra viver da forma que eu gostaria.
Até pensei em, na reunião, pedir esse aumento. Mas fiquei com medo de ser taxado como vagabundo. Quando na verdade só quero aproveitar a vida enquanto há tempo.
Vou propor isso aos meus funcionários quando abrir a minha empresa.
- Pago o seu salário mais meia-hora com sua esposa, meia-hora com seus filhos, uma hora para o seu hobby, meia-hora pra apreciar o pôr-do-sol e mais meia-hora para seus estudos.
Seria interessante ter um funcionário com "tempo pago" por mim, mas feliz. Renderia melhores resultados nas outra cinco horas em que trabalharia.
Durante os dois últimos dias dessa semana pensei muito em "o que fazer com seu tempo?". Ele é seu, de mais ninguém. Você decide como vai usá-lo. Então decidi usá-lo pra fazer agrados, para otimizar meu trabalho, para mudar atitudes... Para dizer que amo.
A questão é: o que você faz com o seu tempo? Se ele parasse hoje, como estaria a sua vida? Da forma que gostaria? Seria horrível se isso acontecesse porque o tempo cria movimento... Ou o movimento cria o tempo?
Ele traz consigo memórias. Responsabilidades. Promessas. Sonhos. Futuro. Ele tem peso.
E pensar que uma coisa tão grandiosa assim foi inventada pelo homem.
Pensando bem, acho que não vou pedir esse aumento. Vou pedir pra "desinventarem" o tempo. Quem sabe assim consigamos ser livres.

Força!
















Pense! Na vida! Pense!
Canse! Então, pare!
Sente! Mas pense!
Descanse! Mas não pare! Pense!

Fale! Do passado! Lembre!
Olhe! Pra trás! À frente!
Não caia! Aprende!
Enfrente! Enfraqueça! Chore! Agüente!

Corra! Dor sem remédio! Corra!
Devagar! Não tropeces! Ande!
Caminhe! Não tropeces! Levante!
Acalma! Não muito! Energiza!

Se afasta! Maldade! Selecione! Amigos!
Construa! PAZ! Pense!
Perdoa! Chora! Cresce!
Sorria! Agora! Lendo!

Não minta! Não engane! A ti!
Sonhe! Lute! Realize!
Deseje! Surpreenda! A ti!
Sinta! Força! Você!

Aí então!

Pense! Na vida! Pense!
Canse! Então, pare!
Sente! Mas pense!
Descanse! Mas não pare! Pense!

Não só pense, canse, sente!
Não só fale, olhe, chore!
Não só corra, caia, levante!
Não só espere e perdoe!

Mas AME! VERDADEIRAMENTE!

Depois, novamente!

Pense! Na vida! Pense!
Canse! Então, pare!
Sente! Mas pense!
Descanse! Mas não pare! MUDE!

Em 17/09/2007

Falta cor

As janelas quentes de fim de tarde
Dos apartamentos fechados
Com o cheiro úmido da solidão
Vida corrida; falta de tempo

Só preciso de mais um copo
Só preciso de mais um corpo
O trabalho ocupa o lugar do amor
E na retina, nada além de mais um fim de tarde sem cor

Não é pra rimar
Não há rima sem cor
Não há vida sem dor

E sem vida
A poesia não sai.

Em 05/12/07

Retornando à Fonte

É legal voltar a esse movimento de escrever
Extravasar sem gritar.
Sem preocupações ou obrigações.
O processo antigo de pegar a caneta e o caderno ainda funciona muito bem.
Mas abrir a tela branca com as bordas azuis também materializa o pensamento.
Deixar fluir, ouvir o sangue correndo e pedindo para sair em forma de palavras.
É gostoso.
É como sentar à sombra de uma árvore qualquer, como andar num conversível ao som de Lighthouse Family.
É como tomar uma Coca bem gelada no calor, dormir no sofá vendo filme.

Os dias mudam, nós também, mas algumas coisas ficam suspensas.
Inoculadas em nossas vidas, esperando a hora de fazer efeito.
Às vezes como um bom vinho. Quanto mais passa o tempo, melhor fica.

Espero que funcione assim também com a criação.
Que sempre haja a cobrança própria de ser original.
Porque além do prazer de criar, há também o prazer de ler.

Quem sou.

Eu?
Eu sou um pouco de tudo
Um pouco do que já vivi e um pouco do que ainda vem pela frente
Minha Bossa já não é mais Nova.. está gasta, é usada; vivida!
Sou o Zé do Tom, o Jobim.
Sou samba de enredo, samba de raiz
Frevo, Maracatu embolado, Samba dobrado
Mas também acho que sou Pop, Rock
E disso sou muito mais Reggae.
Congo, Baião.
Encontro em mim o silêncio e também o Jazz
O Blues da solidão
Eu sou um pouco de tudo.
Soul Brasileiro, Rock estrangeiro
Sou Vinícius, Caetano e Geraldo Azevedo
E por que não Hermeto Pascoal e Adoniran Barbosa
Não vejo muito o funk brasileiro
Mas sim Dolores Duran e Leila Pinheiro
O Rio de Janeiro. Micareteiro.
Sou água mansa, onde vez em quando tem ventania.
E assim vou indo, gastando a minha Bossa, meu Choro.
Porque eu sou um pouco de tudo.

Eu sou cansado do trabalho diário
De lavar roupa, de ficar à toa
Livro, leito. Descanso meu pensar.
Mas não sou uma espécie de Cult moderno.
Não tento ser nada, apenas existo e penso.
O que acontece é conseqüência.
Sou Branco, sou Negro.
A mistura perfeita do anis.
Nem doce nem amargo.
Porque eu sou um pouco de tudo.

As gargalhadas, os sorrisos, o pranto
O espanto, que só não me espanta a solidão.
"De ser quem eu sou, de estar onde estou"
E me espanto comigo mesmo.
Não sou igual ao dia anterior.
Tudo o que é rotina me desinteressa. E o que é comum tenho aversão.
Eu gosto do inusitado, do intelecto, da chuva que cai sem aviso prévio
Do que muda constantemente, do inesperado.
A minha metade não tem dois lados iguais.
Porque eu sou um pouco de tudo.

Talvez em cada "pouco" seja incompleto
Mas me sinto forte com tudo isso e mais um pouco
Não adianta chacoalhar, não viro um só.
Porque em mim, de tudo há
Um pouco.

Gustavo Pinheiro